sexta-feira, 3 de junho de 2016

Um soneto... Sobre um vaso?

Postado por: Jorge Leandro, Willian Antonio, Gustavo Souza, Mariana Vieira e Fernanda Moura



É, um soneto sobre um vaso. Lide com isso. Antes de julgar, vamos conhecer um pouco sobre o autor que escreveu essa, sim, obra literária: Alberto de Oliveira!


Em resumo, ele é um dos autores brasileiros famosos por terem suas obras com características do Parnasianismo, uma Escola Literária em que seus poemas são a justificativa da arte pela arte: rimas ricas, preocupação extrema com a forma e uma temática anti-romântica. E ele é conhecido por ser o mais rígido entre os autores desse período.

A Tríade Parnasiana: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.

A Obra de Alberto de Oliveira inicia-se em 1878 com Canções Românticas que apresenta ainda feições românticas, apesar da severidade na técnica e sobriedade das imagens. Em 1884 firma-se no Parnasianismo com Meridionais, seguido de Sonetos e Poemas de 1886 que o destaca como um dos líderes do movimento parnasiano no Brasil. Posteriormente, é publicado Versos e Rimas em 1895 e Poesias Completas em 1900. Além de quatro séries da Obra Poesias, publicadas entre 1906 e 1927, teve uma Obra publicada postumamente em 1944.

Segue uma breve análise do poema Vaso Chinês de 1886 na Obra Sonetos e Poemas, que é um dos poemas que mais expõe as características do autor e do período literário no qual está inserido.

Vaso Chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

(Sonetos e poemas, 1886.)

De início, o que se pode notar no poema é a forma de dois quartetos e dois tercetos (Soneto), estrutura muito comum em poemas da escola literária em que o poema está inserido, o parnasianismo, muito utilizada por Alberto de Oliveira e por outros autores parnasianos. Todos os quatorze versos que compõe o poema apresentam rimas do tipo ABAB e dez sílabas poéticas.

Uma das principais características do período literário expostas no poema é a ausência do sentimentalismo exacerbado característico do Romantismo, pois o Parnasianismo surgiu justamente como uma antítese ao Romantismo. Outra característica marcante, não só da escola literária, mas também do autor, é o uso de palavras rebuscadas, como “luzidio”, “rubras” e “mandarim”; e a utilização de figuras de linguagem, principalmente, o hipérbato e a sinestesia, respectivamente observadas em “singular figura” e “tinta ardente”.
É possível perceber, como uma observação implícita, um possível tom amoroso e sentimentalista na poesia, como se “a singular figura” e “pintá-la” remetesse a uma figura feminina, o que iria de encontro à ideia de distanciamento emotivo e neutralidade. Ainda assim, o poema é um exemplo do que seria “arte pela arte” e de muitas características das quais emergem o movimento literário parnasiano.


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