É, um soneto sobre um vaso. Lide com isso. Antes de julgar, vamos conhecer um pouco sobre o autor que escreveu essa, sim, obra literária: Alberto de Oliveira!
Em resumo, ele é um dos autores brasileiros famosos por terem suas obras com características do Parnasianismo, uma Escola Literária em que seus poemas são a justificativa da arte pela arte: rimas ricas, preocupação extrema com a forma e uma temática anti-romântica. E ele é conhecido por ser o mais rígido entre os autores desse período.
A Tríade Parnasiana: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.
A Obra de Alberto de Oliveira
inicia-se em 1878 com Canções
Românticas que apresenta
ainda feições românticas, apesar da severidade na técnica e sobriedade das
imagens. Em 1884 firma-se no Parnasianismo com Meridionais, seguido de Sonetos e Poemas de 1886 que o destaca como um dos
líderes do movimento parnasiano no Brasil. Posteriormente, é publicado Versos e Rimas em 1895 e Poesias Completas em 1900. Além de quatro séries da Obra Poesias, publicadas entre 1906
e 1927, teve uma Obra publicada postumamente em 1944.
Segue uma breve análise do
poema Vaso Chinês de 1886 na Obra Sonetos e Poemas, que é um dos
poemas que mais expõe as características do autor e do período literário no
qual está inserido.
Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso!
Vi-o.
Casualmente, uma vez, de
perfumado
Contador sobre o mármor
luzidio,
Entre um leque e o começo de um
bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil
lavrado
Na tinta ardente, de um calor
sombrio.
Mas, talvez por contraste à
desventura,
Quem o sabe?… de um velho
mandarim
Também lá estava a singular
figura;
Que arte em pintá-la! a gente
acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com
aquele chim
De olhos cortados à feição de
amêndoa.
(Sonetos e poemas, 1886.)
De início, o que se pode notar
no poema é a forma de dois quartetos e dois tercetos (Soneto), estrutura muito
comum em poemas da escola literária em que o poema está inserido, o
parnasianismo, muito utilizada por Alberto de Oliveira e por outros autores
parnasianos. Todos os quatorze versos que compõe o poema apresentam rimas do
tipo ABAB e dez sílabas poéticas.
Uma das principais
características do período literário expostas no poema é a ausência do
sentimentalismo exacerbado característico do Romantismo, pois o Parnasianismo
surgiu justamente como uma antítese ao Romantismo. Outra característica
marcante, não só da escola literária, mas também do autor, é o uso de palavras
rebuscadas, como “luzidio”, “rubras” e “mandarim”; e a utilização de figuras de
linguagem, principalmente, o hipérbato e a sinestesia, respectivamente
observadas em “singular figura” e “tinta ardente”.
É possível perceber, como uma
observação implícita, um possível tom amoroso e sentimentalista na poesia, como
se “a singular figura” e “pintá-la” remetesse a uma figura feminina, o que iria
de encontro à ideia de distanciamento emotivo e neutralidade. Ainda assim, o
poema é um exemplo do que seria “arte pela arte” e de muitas características
das quais emergem o movimento literário parnasiano.
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