sexta-feira, 3 de junho de 2016

A lenda do Simbolismo: Cruz e Sousa



 Postado por: Evelyn Heberhardt, Larissa Ferreira e Mariana Soares.


                                                               CRUZ E SOUSA


                                                                         Biografia

 

      João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis, capital de Santa Catarina, em 24 de novembro de 1861, de pai escravo e mãe alforriada. Após o curso secundário no Ateneu Provincial Catarinense, vive do magistério. Pouco depois, engaja-se numa companhia teatral (1881), e percorre o país. De regresso, lança com Virgílio Várzea um jornal de orientação republicana e abolicionista, que circulou até 1889. Nessa altura, anda impregnado de ideias naturalistas. Em 1890, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde progride seu afastamento do Natruralismo e sua aproximação do Simbolismo. Em 1893, publica Broquéis e Missal. Em 1896, sofre a morte do pai e loucura da esposa em função da morte de dois dos quatro filhos que tiveram. No ano seguinte, descobre-se tuberculoso. Muda-se para Sítio, Minas Gerais, na esperança de melhora, e lá falece em 19 de março de 1898. Nesse mesmo ano saíram suas evocações, poemas em prosa. Em 1900, publicavam-se Faróis, e em 1905, Nestor Vítor recolhia-lhe os Últimos Sonetos. Em 1923-1924, o referido crítico publicou-lhe, no Rio de Janeiro, as Obras Completas, em dois volumes.


CARACTERÍSTICAS DO SIMBOLISMO

Misticismo e Espiritualismo A fuga da realidade leva o poeta simbolista ao mundo espiritual. É uma viagem ao mundo invisível e impalpável do ser humano. Uso de vocabulário litúrgico.

Subjetivismo A valorização do "eu" e da "irrealidade", negada pelos parnasianos, volta a ter importância.

Musicalidade Para valorizar os aspectos sonoros das palavras, os poetas não se contentam apenas com a rima. Lançam mão de outros recursos fonéticos tais como:

Aliteração: Repetição sequencial de sons consonantais. As palavras com sons parecidos fazem com que o leitor menospreze o sentido das palavras para absorver-lhes a sonoridade;

Assonância: É a semelhança de sons entre vogais de palavras de um poema;

Sinestesia: Os poetas, tentando ir além dos significados usuais das palavras, terminam atribuindo qualidade às sensações. As construções parecem absurdas e só ganham sentido dentro de um contexto poético;

Letras Maiúsculas: Os poetas tentam destacar palavras grafando-as com letra maiúscula.




POESIA DE CRUZ E SOUSA

Obra Literária e Análise Poética

A linguagem de Cruz e Sousa, herdada do Parnasianismo, é requintada, mas criativa, na medida em que dá ênfase a musicalidade dos versos por meio da exploração da sonoridade dos vocábulos. Suas principais obras foram:

Poesia: Broquéis (1893); Faróis (1900; obra póstuma) e Últimos sonetos (1905; obra póstuma).

Prosa poética: Tropos e fanfarras (1885) em conjunto com Virgílio Várzea, Missal (1893) e Evocações (1898; obra póstuma).


Obras

Cruz e Sousa é considerado o maior e melhor escritor simbolista brasileiro. Suas obras tinham efeitos sonoros e rítmicos, além do gosto pela linguagem rebuscada, além disso seus textos tinham tematicas de morte, Deus, mistérios da vida e personagens marginalizados. Sua linguagem é rica e seus poemas mais longos possuem grande musicalidade.

Outras características que suas obras trazia: pessimismo, perfeccionismo formal, metáforas.

Opoema Violões que choram apresenta várias características do Simbolismo: musicalidade, como a aliteraçaõ da letra V, sinestesia, o uso de muitos substantivos e adjetivos, subjetivismo, etc.





Violões que choram
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,

Soluços ao luar, choros ao vento...

Tristes perfis, os mais vagos contornos,

Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,

Noites da solidão, noites remotas

Que nos azuis da Fantasia bordo,

Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,

Anseio dos momentos mais saudosos,

Quando lá choram na deserta rua

As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,

Quando os sons dos violões nas cordas gemem,

E vão dilacerando e deliciando,

Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,

Dedos nervosos e ágeis que percorrem

Cordas e um mundo de dolências geram

Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,

Mágoas amargas e melancolias,

No sussurro monótono das águas,

Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa

E vibra e se contorce no ar, convulso...

Tudo na noite, tudo clama e voa

Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos

São ilhas de degredo atroz, funéreo,

Para onde vão, fatigadas do sonho,

Almas que se abismaram no mistério.

Sons perdidos, nostálgicos, secretos,

Finas, diluídas, vaporosas brumas,

Longo desolamento dos inquietos

Navios a vagar à flor de espumas.

Oh! languidez, languidez infinita,

Nebulosas de sons e de queixumes,

Vibrado coração de ânsia esquisita

E de gritos felinos de ciúmes!

Que encantos acres nos vadios rotos

Quando em toscos violões, por lentas horas

Vibram, com a graça virgem dos garotos,

Um concerto de lágrimas sonoras!

Quando uma voz, em trêmulos, incerta,

Palpitando no espaço, ondula, ondeia,

E o canto sobe para a flor deserta,

Soturna e singular da lua cheia.

Quando as estrelas mágicas florescem,

E no silêncio astral da Imensidade

Por lagos encantados adormecem

As pálidas ninféias da Saudade!

Como me embala toda essa pungência,

Essas lacerações como me embalam,

Como abrem asas brancas de clemência

As harmonias dos violões que falam!

Que graça ideal, amargamente triste,

Nos lânguidos bordões plangendo passa.

Quanta melancolia de anjo existe

Nas visões melodiosas dessa graça...

Que céu, que inferno, que profundo inferno,

Que ouros, que azuis, que lágrimas, que risos,

Quanto magoado sentimento eterno

Nesses ritmos trêmulos e indecisos...

Que anelos sexuais de monjas belas

Nas ciliciadas carnes tentadoras,

Vagando no recôndito das celas,

Por entre as ânsias dilaceradoras...

Quanta plebéia castidade obscura

Vegetando e morrendo sobre a lama,

Proliferando sobre a lama impura,

Como em perpétuos turbilhões de chama,

Que procissão sinistra de caveiras,

De espetros, pelas sombras mortas, mudas...

Que montanhas de dor, que cordilheiras

De agonias aspérrimas e agudas.

Véus neblinosos, longos, véus de viúvas

Enclausuradas nos ferais desterros,

Errando aos sóis, aos vendavais e às chuvas,

Sob abóbadas lúgubres de enterros:

Velhinhas quedas e velhinhos quedos,

Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,

Sepulcros vivos de senis segredos,

Eternamente a caminhar sozinhos;

E na expressão de quem se vai sorrindo,

Com as mãos bem juntas e com os pés bem juntos

E um lenço preto o queixo comprimindo,

Passam todos os lívidos defuntos...

E como que há histéricos espasmos

Na mão que esses violões agita, largos...

E o som sombrio é feito de sarcasmos

E de sonambulismos e letargos.

Fantasmas de galés de anos profundos

Na prisão celular atormentados,

Sentindo nos violões os velhos mundos

Da lembrança fiel de áureos passados;

Meigos perfis de tísicos dolentes

Que eu vi dentre os violões errar gemendo,

Prostituídos de outrora, nas serpentes

Dos vícios infernais desfalecendo;

Tipos intonsos, esgrouviados, tortos,

Das luas tardas sob o beijo níveo,

Para os enterros dos seus sonhos mortos

Nas queixas dos violões buscando alívio;

Corpos frágeis, quebrados, doloridos,

Frouxos, dormentes, adormidos, langues,

Na degenerescência dos vencidos

De toda a geração, todos os sangues;

Marinheiros que o mar tornou mais fortes,

Como que feitos de um poder extremo

Para vencer a convulsão das mortes,

Dos temporais o temporal supremo;

Veteranos de todas as campanhas,

Enrugados por fundas cicatrizes,

Procuram nos violões horas estranhas,

Vagos aromas, cândidos, felizes.

Ébrios antigos, vagabundos velhos,

Torvos despojos da miséria humana,

Têm nos violões secretos Evangelhos,

Toda a Bíblia fatal da dor insana.

Enxovalhados, tábidos palhaços

De carapuças, máscaras e gestos

Lentos e lassos, lúbricos, devassos,

Lembrando a florescência dos incestos;

Todas as ironias suspirantes

Que ondulam no ridículo das vidas,

Caricaturas tétricas e errantes

Dos malditos, dos réus, dos suicidas;

Toda essa labiríntica nevrose

Das virgens nos românticos enleios,

Os ocasos do Amor, toda a clorose

Que ocultamente lhes lacera os seios;

Toda a mórbida música plebéia

De requebros de fauno e ondas lascivas;

A langue, mole e morna melopéia

Das valsas alanceadas, convulsivas;

Tudo isso, num grotesco desconforme,

Em ais de dor, em contorções de açoites,

Revive nos violões, acorda e dorme

Através do luar das meias-noites!


Análise Poética
O poema "Violões que choram" apresenta a aliteração da letra V, para sugerir o som do violão; figuras de linguagem como a repetição e a sinestesia; o emprego acentuado de palavras místicas, de muitos substantivos e adjetivos e a substituição das rimas ricas pelas rimas pobres e raras. extremo subjetivismo, sugere o objeto " violão", evoca-o sem descrevê-lo, através da musicalidade, das sinestesias e dos símbolos, enfatizando a imaginação. O poema tem mais sentido como um todo.
 




 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 





 
 
 


 

 
 


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