domingo, 5 de junho de 2016

Parnasianismo

Autor Vicente de Carvalho


Postado por: Adriana, Mônica, Gilney, Geovane e Alexandre

Atividades Práticas Supervisionadas são atividades supervisionadas por um professor, a serem desenvolvidas fora do horário das disciplinas de cada curso. A disciplina vinculada para nossa APS será Literatura Brasileira, Poesia, com o Tema: Ferramentas do Professor de Literatura, em que devemos formar um grupo e, sob orientação do professor Orientador, nos organizarmos a partir do tema proposto, no qual, nós alunos, em grupo, devemos selecionar um capítulo de um livro didático que trabalhe um poema de Literatura Brasileira e prepararmos uma aula de aprox. 15 minutos sobre o tema escolhido, auxiliada por uma breve avaliação pela qual os alunos praticarão os conhecimentos adquiridos durante a aula.
O objetivo dessa atividade é possibilitar uma vivência prática das teorias aprendidas no decorrer das disciplinas de Literatura Brasileira em sala de aula, proporcionando ao aluno um subsídio para o estudo com o livro didático de Literatura, especialmente dos tópicos que tratam da poesia brasileira, para que o estudante tenha uma visão Inter e multidisciplinar da realidade que será enfrentada na vida escolar e profissional.
  
Relatório da Atividade Prática Supervisionada

O grupo é composto por cinco integrantes e o autor escolhido foi Vicente Augusto de Carvalho, Santista, Brasileiro, Parnasiano. Não é muito comum encontrar informações sobre o autor nos livros de Ensino Médio. Tivemos que lidar com este novo desafio que sustentasse o trabalho. No Parnasianismo Brasileiro quem mais se destacou foi Olavo Bilac, juntamente com os autores que fizeram parte da Tríade: Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Encontradas as informações sobre o autor, fizemos uma pesquisa da sua escola literária, sua vida, poemas escritos e atividades para serem usadas como método avaliativo; em seguida preparamos nossa aula.


PLANO DE AULA

O plano de aula foi baseado nos pontos mais importantes sobre o autor Vicente de Carvalho. Preparamos uma aula com uma didática simples para que o aluno se interesse pela aula:
a.  Escola literária e suas características;
b. Principais característica do autor e suas obras;
c. Análise do poema A fonte e a flor;
d. Exercícios de múltipla escolha para avaliação.


A ESCOLA LITERÁRIA

Sobre a escola literária destacamos que o Parnasianismo teve seu início na França no começo da década de 1860, por um grupo de poetas que acreditava que a literatura não se deveria pautar pelo engajamento social e sim para se aproximar aos ideais estéticos greco-latino. Os parnasianos se preocupavam com a estética do poema, Arte pela Arte, que significa arte autônoma, sem razões funcionais, objetiva, cultuando a forma.


SOBRE O AUTOR & A OBRA ESCOLHIDA

Vicente Augusto de Carvalho nasceu e faleceu na cidade de Santos-SP (1866-1924), foi advogado, jornalista, político, abolicionista, fazendeiro, deputado, magistrado, poeta e contista brasileiro. Suas principais obras foram: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), e Poemas e Canções (1908). O poema de Vicente de Carvalho que escolhemos foi A fonte e a flor. Através dele ressaltamos uma das características do parnasianismo, culto da forma e o uso de rimas ricas. As rimas são consideradas ricas porque contem classes gramaticais diferentes, como verbo-adjetivo, adjetivo-sujeito, adjetivo-verbo, verbo-sujeito:

“Deixa-me fonte!” Dizia  (v)
A flor, tonta de terror.      (a)
E a fonte, sonora e fria     (a)
Cantava, levando a flor.   (s)

E a fonte, rápida e fria,            (a)
Com um sussurro zombador,   (a)
Por sobre a areia corria,           (v)
Corria levando a flor.               (s)

Destacamos também a ruptura da sintagmática neste verso:

“Deixa-me fonte!” Dizia
A flor, tonta de terror.  

Nestes versos ressaltamos umas das características do parnasianismo no qual o uso dessa ruptura promove a rima perfeita. Finalmente, falamos da Impassibilidade e do Descritivismo presente no poema; observamos que não há subjetividade do autor no poema, embora ele esteja descrevendo um acontecimento que nos causa tristeza; ele não mostra sentimentalismo, apenas descreve os acontecimentos.


A AVALIAÇÃO

Para ministrar nossa aula, usamos slides com os tópicos e aplicamos exercícios para avaliação. Elaboramos um questionário de múltipla escolha para que cada aluno pudesse analisar cada opção de resposta de acordo com o que eles compreenderam sobre o poema e a escola literária sugerida. No total foram apresentadas quatro questões, algumas selecionadas de provas de vestibular.


FINALIZAÇÃO

Após toda a pesquisa, montagem, planejamento de aula, aula ministrada e correções de possíveis falhas, postamos nosso material no blog da sala: literatico.blogspot.com.br. Todo nosso trabalho foi orientado e revisado pela Professora Orientadora da disciplina vinculada.

  
CONCLUSÃO

Utilizando os livros didáticos como apoio para a realização deste trabalho, no qual os cinco integrantes do grupo estavam de acordo; fizemos um trabalho apoiado no texto descritivo, com a intenção de apenas informar os principais fatos dentro de um contexto, deixando o material claro e dinâmico. O tema escolhido pelo grupo foi “O Parnasianismo de Vicente de Carvalho” e a nossa preocupação foi como trabalhar com o Ensino Médio de forma que ficasse claro as características do período e do autor. Optamos por começarmos fazendo uma introdução da escola literária, onde ela se formou, porque se formou e quais são suas características preparando o aluno para que ao ler o poema tenha uma breve referência de seu contexto histórico entendendo o porquê do escritor possuir tais características como a preocupação da forma, a arte pela arte, cultuar a forma, etc.
Assim, foi possibilitado aos alunos um melhor aproveitamento e rendimento nos quesitos compreensão/aprendizado, tendo como base as explicações selecionadas, as quais foram centralizadas no poema apresentado em sala de aula. O conteúdo resumido e focado nos detalhes e características da escola literária foi primordial para que os alunos pudessem melhor conhecer e aprofundar na poesia de Vicente de Carvalho. O questionário aplicado ao fim da aula foi outro fator de extrema relevância, pois, proporcionou aos alunos uma liberdade de pensamento para melhor avaliarem suas respostas de acordo com os materiais apresentados.
O grupo obteve aproveitamento nesse trabalho, desenvolvendo uma visão mais crítica e realista na tarefa de ministrar uma aula de literatura para o Ensino Médio e adquiriu pensamentos inovadores quanto à docência.
Esta aula foi ministrada no tempo de 15 minutos, o tempo exigido pela APS de nosso curso.
















sexta-feira, 3 de junho de 2016

Misticismo, Amor e Morte

Postado por: Mainá Alves, Letícia Maria, Ana Flávia e Edejane Paiva

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

           Logo quando falamos em Simbolismo brasileiro, associamos imediatamente o movimento literário a seu principal representante: Cruz e Sousa. Porém, Alphonsus de Guimaraens também trouxe uma grande contribuição para esse movimento tão significativo na Literatura do nosso país.
            
           O objetivo é fazer uma análise do autor e suas obras, em especial “Ismália”, uma de suas poesias mais famosas e comentadas pelos críticos literários. Alguns a consideram como a poesia do suicídio mais bonito da Literatura brasileira. Faremos uma conexão entre as características próprias do período com as do poeta. 


SIMBOLISMO NO BRASIL

            Ao contrário do que ocorreu na Europa, o Simbolismo se sobrepôs ao Parnasianismo, no Brasil. Apesar disso, a produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando terreno para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da poesia.

            As primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de 80 do século XIX, e seu marco introdutório foi a publicação, em 1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de nosso maior simbolista: Cruz e Souza.

CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA

            Misticismo e Espiritualismo – A fuga da realidade leva o poeta simbolista ao mundo espiritual. É uma viagem ao mundo invisível e impalpável do ser humano. Uso de vocabulário litúrgico.
            Subjetivismo – A valorização do “eu” e da “irrealidade”, negada pelos parnasianos, volta a ter importância.
            Musicalidade – Para valorizar os aspectos sonoros das palavras, os poetas não se contentam apenas com a rima. Lançam mão de outros recursos fonéticos tais como:
            Aliteração: Repetição sequencial de sons consonantais. As palavras com sons parecidos fazem com que o leitor menospreze o sentido das palavras para absorver-lhes a sonoridade;
            Assonância: É a semelhança de sons entre vogais de palavras de um poema;
            Sinestesia: Os poetas, tentando ir além dos significados usuais das palavras, terminam atribuindo qualidade às sensações. As construções parecem absurdas e só ganham sentido dentro de um contexto poético;
            Letras Maiúsculas: Os poetas tentam destacar palavras grafando-as com letra maiúscula.

POESIA DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS

            O poeta Alphonsus de Guimaraens foi uma das principais expressões poéticas do período simbolista. Sua obra é marcada pela influência do Ultrarromantismo (a segunda geração do Romantismo Brasileiro), trazendo temas sombrios como a morte, o misticismo e a solidão.
            A morte da mulher amada – Constança, sua prima, que faleceu com apenas 17 anos – influenciou profundamente toda sua vida e obra literária. Sua poesia, equilibrada e uniforme, mostra toda sua misticidade e espiritualidade, utilizando quase sempre o tema da morte, como salvação para a alma. Apesar de também ter escrito sobre natureza, arte e religião, de alguma forma ele relacionava ou fazia referência à morte, nos fazendo recordar sua amada, Constança.
Em relação a métrica, seus poemas revelam influências Árcades e Renascentistas, porém não caem no Formalismo Parnasiano. Ele quase sempre preferiu o verso decassílabo, mas também não deixou de explorar outras métricas, como a redondilha maior – tradicional, medieval e romântica.
            O poema Ismália, é uma das poesias mais famosas do autor, assim como uma das que mais exprime o sentimentalismo e a valorização do ser espiritual.

Ismália
 Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Análise Poética
Na poesia, Ismália é uma personagem que tem uma desorientação mental, como vemos logo nos primeiros versos "Quando Ismália enlouqueceu, pôs-se na torre a sonhar...". A moça se perdeu em sua loucura, deixando-se levar pelo sonho e pelo irreal. Em sua fantasia inocente, a Lua aparece como um elemento crucial entre a vida e a morte, representando a sua passagem dessa vida para um plano espiritual, trazendo a sensibilidade, o poder instintivo, os sonhos e a ilusão.
            Ismália sempre almejava a Lua – como um amor idealizado – Para tanto, ela se entregou totalmente ao seu desejo, se desprendeu da realidade, fugiu, se fechou em uma torre, ficou alheia ao mundo. O sonho de Ismália era, porém, inalcançável, como podemos ver nos versos “Queria a lua do céu, queria a lua do mar...”, há uma confusão mental, pois, a Lua do mar, nada mais é do que a própria lua refletida no mar. A única forma de realizar seu desejo é através da morte, a maior das fugas e a solução para todos os problemas que atormentam o ser humano. Sendo assim, ele finaliza com a consumação do suicídio “Sua alma, subiu ao céu, seu corpo desceu ao mar...”.

Agora, para saber se você aprendeu mesmo as características do movimento literário Simbolismo no Brasil e do nosso poeta, temos a seguinte questão:

(UEPA-PA) Sobre Alphonsus de Guimaraens, afirma Alfredo Bosi, na História Concisa da Literatura Brasileira, “… foi poeta de um só tema: a morte da amada”.

Essa obsessão faz a natureza cúmplice permanente de suas dores, como se vê na seguinte estrofe desse poeta:

 (A) “Ontem, à meia-noite, estando junto
A uma igreja, lembrei-me de ter visto
Um velho que levava às costas isto:
Um caixão de defunto.”

 (B) “Espectros que têm voz, sombras que têm tristezas
Perseguem-me: e acompanho os apagados traços
De semblantes que amei fora da natureza.”

 (C) “E o sino canta em lúgubres responsos
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

 (D) “O olhar feto no chão, como desfeito
Em sangue, o velho, sem me olhar segura,
E ouvir-lhe a única frase que dizia:
Vou levando o meu leito.”

 (E) “Hão de chorar por ela os cinamomos
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.”


Vou dar um tempinho pra você pensar...







A resposta correta é...

... E

Você acertou? Parabéns!!!

A lenda do Simbolismo: Cruz e Sousa



 Postado por: Evelyn Heberhardt, Larissa Ferreira e Mariana Soares.


                                                               CRUZ E SOUSA


                                                                         Biografia

 

      João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis, capital de Santa Catarina, em 24 de novembro de 1861, de pai escravo e mãe alforriada. Após o curso secundário no Ateneu Provincial Catarinense, vive do magistério. Pouco depois, engaja-se numa companhia teatral (1881), e percorre o país. De regresso, lança com Virgílio Várzea um jornal de orientação republicana e abolicionista, que circulou até 1889. Nessa altura, anda impregnado de ideias naturalistas. Em 1890, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde progride seu afastamento do Natruralismo e sua aproximação do Simbolismo. Em 1893, publica Broquéis e Missal. Em 1896, sofre a morte do pai e loucura da esposa em função da morte de dois dos quatro filhos que tiveram. No ano seguinte, descobre-se tuberculoso. Muda-se para Sítio, Minas Gerais, na esperança de melhora, e lá falece em 19 de março de 1898. Nesse mesmo ano saíram suas evocações, poemas em prosa. Em 1900, publicavam-se Faróis, e em 1905, Nestor Vítor recolhia-lhe os Últimos Sonetos. Em 1923-1924, o referido crítico publicou-lhe, no Rio de Janeiro, as Obras Completas, em dois volumes.


CARACTERÍSTICAS DO SIMBOLISMO

Misticismo e Espiritualismo A fuga da realidade leva o poeta simbolista ao mundo espiritual. É uma viagem ao mundo invisível e impalpável do ser humano. Uso de vocabulário litúrgico.

Subjetivismo A valorização do "eu" e da "irrealidade", negada pelos parnasianos, volta a ter importância.

Musicalidade Para valorizar os aspectos sonoros das palavras, os poetas não se contentam apenas com a rima. Lançam mão de outros recursos fonéticos tais como:

Aliteração: Repetição sequencial de sons consonantais. As palavras com sons parecidos fazem com que o leitor menospreze o sentido das palavras para absorver-lhes a sonoridade;

Assonância: É a semelhança de sons entre vogais de palavras de um poema;

Sinestesia: Os poetas, tentando ir além dos significados usuais das palavras, terminam atribuindo qualidade às sensações. As construções parecem absurdas e só ganham sentido dentro de um contexto poético;

Letras Maiúsculas: Os poetas tentam destacar palavras grafando-as com letra maiúscula.




POESIA DE CRUZ E SOUSA

Obra Literária e Análise Poética

A linguagem de Cruz e Sousa, herdada do Parnasianismo, é requintada, mas criativa, na medida em que dá ênfase a musicalidade dos versos por meio da exploração da sonoridade dos vocábulos. Suas principais obras foram:

Poesia: Broquéis (1893); Faróis (1900; obra póstuma) e Últimos sonetos (1905; obra póstuma).

Prosa poética: Tropos e fanfarras (1885) em conjunto com Virgílio Várzea, Missal (1893) e Evocações (1898; obra póstuma).


Obras

Cruz e Sousa é considerado o maior e melhor escritor simbolista brasileiro. Suas obras tinham efeitos sonoros e rítmicos, além do gosto pela linguagem rebuscada, além disso seus textos tinham tematicas de morte, Deus, mistérios da vida e personagens marginalizados. Sua linguagem é rica e seus poemas mais longos possuem grande musicalidade.

Outras características que suas obras trazia: pessimismo, perfeccionismo formal, metáforas.

Opoema Violões que choram apresenta várias características do Simbolismo: musicalidade, como a aliteraçaõ da letra V, sinestesia, o uso de muitos substantivos e adjetivos, subjetivismo, etc.





Violões que choram
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,

Soluços ao luar, choros ao vento...

Tristes perfis, os mais vagos contornos,

Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,

Noites da solidão, noites remotas

Que nos azuis da Fantasia bordo,

Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,

Anseio dos momentos mais saudosos,

Quando lá choram na deserta rua

As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,

Quando os sons dos violões nas cordas gemem,

E vão dilacerando e deliciando,

Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,

Dedos nervosos e ágeis que percorrem

Cordas e um mundo de dolências geram

Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,

Mágoas amargas e melancolias,

No sussurro monótono das águas,

Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,

Volúpias dos violões, vozes veladas,

Vagam nos velhos vórtices velozes

Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa

E vibra e se contorce no ar, convulso...

Tudo na noite, tudo clama e voa

Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos

São ilhas de degredo atroz, funéreo,

Para onde vão, fatigadas do sonho,

Almas que se abismaram no mistério.

Sons perdidos, nostálgicos, secretos,

Finas, diluídas, vaporosas brumas,

Longo desolamento dos inquietos

Navios a vagar à flor de espumas.

Oh! languidez, languidez infinita,

Nebulosas de sons e de queixumes,

Vibrado coração de ânsia esquisita

E de gritos felinos de ciúmes!

Que encantos acres nos vadios rotos

Quando em toscos violões, por lentas horas

Vibram, com a graça virgem dos garotos,

Um concerto de lágrimas sonoras!

Quando uma voz, em trêmulos, incerta,

Palpitando no espaço, ondula, ondeia,

E o canto sobe para a flor deserta,

Soturna e singular da lua cheia.

Quando as estrelas mágicas florescem,

E no silêncio astral da Imensidade

Por lagos encantados adormecem

As pálidas ninféias da Saudade!

Como me embala toda essa pungência,

Essas lacerações como me embalam,

Como abrem asas brancas de clemência

As harmonias dos violões que falam!

Que graça ideal, amargamente triste,

Nos lânguidos bordões plangendo passa.

Quanta melancolia de anjo existe

Nas visões melodiosas dessa graça...

Que céu, que inferno, que profundo inferno,

Que ouros, que azuis, que lágrimas, que risos,

Quanto magoado sentimento eterno

Nesses ritmos trêmulos e indecisos...

Que anelos sexuais de monjas belas

Nas ciliciadas carnes tentadoras,

Vagando no recôndito das celas,

Por entre as ânsias dilaceradoras...

Quanta plebéia castidade obscura

Vegetando e morrendo sobre a lama,

Proliferando sobre a lama impura,

Como em perpétuos turbilhões de chama,

Que procissão sinistra de caveiras,

De espetros, pelas sombras mortas, mudas...

Que montanhas de dor, que cordilheiras

De agonias aspérrimas e agudas.

Véus neblinosos, longos, véus de viúvas

Enclausuradas nos ferais desterros,

Errando aos sóis, aos vendavais e às chuvas,

Sob abóbadas lúgubres de enterros:

Velhinhas quedas e velhinhos quedos,

Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,

Sepulcros vivos de senis segredos,

Eternamente a caminhar sozinhos;

E na expressão de quem se vai sorrindo,

Com as mãos bem juntas e com os pés bem juntos

E um lenço preto o queixo comprimindo,

Passam todos os lívidos defuntos...

E como que há histéricos espasmos

Na mão que esses violões agita, largos...

E o som sombrio é feito de sarcasmos

E de sonambulismos e letargos.

Fantasmas de galés de anos profundos

Na prisão celular atormentados,

Sentindo nos violões os velhos mundos

Da lembrança fiel de áureos passados;

Meigos perfis de tísicos dolentes

Que eu vi dentre os violões errar gemendo,

Prostituídos de outrora, nas serpentes

Dos vícios infernais desfalecendo;

Tipos intonsos, esgrouviados, tortos,

Das luas tardas sob o beijo níveo,

Para os enterros dos seus sonhos mortos

Nas queixas dos violões buscando alívio;

Corpos frágeis, quebrados, doloridos,

Frouxos, dormentes, adormidos, langues,

Na degenerescência dos vencidos

De toda a geração, todos os sangues;

Marinheiros que o mar tornou mais fortes,

Como que feitos de um poder extremo

Para vencer a convulsão das mortes,

Dos temporais o temporal supremo;

Veteranos de todas as campanhas,

Enrugados por fundas cicatrizes,

Procuram nos violões horas estranhas,

Vagos aromas, cândidos, felizes.

Ébrios antigos, vagabundos velhos,

Torvos despojos da miséria humana,

Têm nos violões secretos Evangelhos,

Toda a Bíblia fatal da dor insana.

Enxovalhados, tábidos palhaços

De carapuças, máscaras e gestos

Lentos e lassos, lúbricos, devassos,

Lembrando a florescência dos incestos;

Todas as ironias suspirantes

Que ondulam no ridículo das vidas,

Caricaturas tétricas e errantes

Dos malditos, dos réus, dos suicidas;

Toda essa labiríntica nevrose

Das virgens nos românticos enleios,

Os ocasos do Amor, toda a clorose

Que ocultamente lhes lacera os seios;

Toda a mórbida música plebéia

De requebros de fauno e ondas lascivas;

A langue, mole e morna melopéia

Das valsas alanceadas, convulsivas;

Tudo isso, num grotesco desconforme,

Em ais de dor, em contorções de açoites,

Revive nos violões, acorda e dorme

Através do luar das meias-noites!


Análise Poética
O poema "Violões que choram" apresenta a aliteração da letra V, para sugerir o som do violão; figuras de linguagem como a repetição e a sinestesia; o emprego acentuado de palavras místicas, de muitos substantivos e adjetivos e a substituição das rimas ricas pelas rimas pobres e raras. extremo subjetivismo, sugere o objeto " violão", evoca-o sem descrevê-lo, através da musicalidade, das sinestesias e dos símbolos, enfatizando a imaginação. O poema tem mais sentido como um todo.
 




 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 





 
 
 


 

 
 


Um soneto... Sobre um vaso?

Postado por: Jorge Leandro, Willian Antonio, Gustavo Souza, Mariana Vieira e Fernanda Moura



É, um soneto sobre um vaso. Lide com isso. Antes de julgar, vamos conhecer um pouco sobre o autor que escreveu essa, sim, obra literária: Alberto de Oliveira!


Em resumo, ele é um dos autores brasileiros famosos por terem suas obras com características do Parnasianismo, uma Escola Literária em que seus poemas são a justificativa da arte pela arte: rimas ricas, preocupação extrema com a forma e uma temática anti-romântica. E ele é conhecido por ser o mais rígido entre os autores desse período.

A Tríade Parnasiana: Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.

A Obra de Alberto de Oliveira inicia-se em 1878 com Canções Românticas que apresenta ainda feições românticas, apesar da severidade na técnica e sobriedade das imagens. Em 1884 firma-se no Parnasianismo com Meridionais, seguido de Sonetos e Poemas de 1886 que o destaca como um dos líderes do movimento parnasiano no Brasil. Posteriormente, é publicado Versos e Rimas em 1895 e Poesias Completas em 1900. Além de quatro séries da Obra Poesias, publicadas entre 1906 e 1927, teve uma Obra publicada postumamente em 1944.

Segue uma breve análise do poema Vaso Chinês de 1886 na Obra Sonetos e Poemas, que é um dos poemas que mais expõe as características do autor e do período literário no qual está inserido.

Vaso Chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

(Sonetos e poemas, 1886.)

De início, o que se pode notar no poema é a forma de dois quartetos e dois tercetos (Soneto), estrutura muito comum em poemas da escola literária em que o poema está inserido, o parnasianismo, muito utilizada por Alberto de Oliveira e por outros autores parnasianos. Todos os quatorze versos que compõe o poema apresentam rimas do tipo ABAB e dez sílabas poéticas.

Uma das principais características do período literário expostas no poema é a ausência do sentimentalismo exacerbado característico do Romantismo, pois o Parnasianismo surgiu justamente como uma antítese ao Romantismo. Outra característica marcante, não só da escola literária, mas também do autor, é o uso de palavras rebuscadas, como “luzidio”, “rubras” e “mandarim”; e a utilização de figuras de linguagem, principalmente, o hipérbato e a sinestesia, respectivamente observadas em “singular figura” e “tinta ardente”.
É possível perceber, como uma observação implícita, um possível tom amoroso e sentimentalista na poesia, como se “a singular figura” e “pintá-la” remetesse a uma figura feminina, o que iria de encontro à ideia de distanciamento emotivo e neutralidade. Ainda assim, o poema é um exemplo do que seria “arte pela arte” e de muitas características das quais emergem o movimento literário parnasiano.