Autores: Carolina, Cláudia, Denis, Fernanda e Glayds.
[Os
conceitos de estética e diferença aparecem como opostos entre si. A estética
está intimamente ligada com os valores ocidentais e tem uma perspectiva
verdadeira e genuína, e internaliza a repressão, a colonização e a subjugação
das massas em favor do bem-comum desinteressado. Tal visão pode ser considerada
um equívoco, já que a estética também pode ser considerada o produto de uma
relação sensorial individual com o mundo que nos rodeia.]
Segundo
Festino (p.314):
O que deve ser levado em conta é
que se a experiência sensorial é comum a todo ser humano, ela sempre será
mediada pelo contexto cultural a que o indivíduo pertence; ou seja, é uma
prática comunitária que depende do que é entendido como estético dentro da
comunidade à qual o indivíduo pertence.
[No
momento em que a estética começa a ser entendida como uma prática comunitária e
diretamente relacionada com a cultura, onde propõem metáforas literárias que se
desenvolvem de maneira diferenciada a uma obra de arte, percebemos que as
culturas têm também diferentes teorias estéticas. Com isso, dá-se a origem da
estética da diferença, onde torna-se visível o aspecto estético e social da
literatura.
Já o
termo diferença pode ser entendido como um jogo permanente entre forças que
geram diferentes identidades culturais. Com isso, é chegado a um sem fim de
continuidades.]
Para
Festino (p.315): “Seria essa relação entre os diferentes discursos de um cânone
literário: uma acomodação da tradição com a chegada de novas narrativas.
[Assim,
como definição de estética da diferença, temos o amor do Outro por meio da
apreciação de formas diferentes. O Outro não pode ser considerado um inimigo e
sim algo parecido com uma ajuda para refletir sobre a nossa cultura e os tabus
presentes em nossa sociedade.]
O
LITERÁRIO: UM CONCEITO PLURAL
Entendemos o literário não como uma
categoria universal, mas como uma das formas estéticas que em conjunto com a
imaginação, articula o que um povo aprende da sua experiência. A Literatura tem
significado diferente para cada cultura e cada cultura não só tem seu próprio
estilo como também uma maneira diferenciada de entender diversos outros
conceitos, consecutivamente entendem a literatura e seu papel na sociedade de
maneiras diferenciadas.
Damrosch (2009, p. 13-14) aponta
que, na tradição ocidental, literatura foi utilizado para se referir às
narrativas “escritas com belas palavras” e sugere que essa beleza da linguagem
é mais relevante do que qualquer uso ou afirmação do texto.
[No século dezenove, foi restringido
pelo Ocidente o conceito de literatura às narrativas e produto da imaginação.
Espera-se que as ideias articuladas por meio da literatura relacionem-se com o
que a cultura entende como realidade. Eram em textos como Ramayana, o
Mahabharata e o Bhagavad Gita (FESTINO, 2007), grandes épicos da cultura
indiana, que podia-se ter acesso à história da cultura indiana pois tais textos
articulavam os valores da comunidade enquanto que para um leitor ocidental
estas mesmas histórias serão sempre narrativas épicas, produtos da imaginação.]
Os leitores esperam que todos os
eventos de uma narrativa estejam claramente relacionados a documentos que o
autor tenha lido, mas não tenha inventado. De outro ângulo, os diferentes
gêneros literários variam de uma cultura para outra, tanto na sua forma como na
sua recorrência. Da mesma maneira, dentro de uma cultura, os diferentes gêneros
literários são considerados de maneira diferente.
[Enquanto o gênero romance é um
produto da cultura ocidental, no século dezenove há diferenças marcantes entre
o romance inglês. Literatura seria o conjunto de todas narrativas literárias. O
que quer dizer, que o conceito de literatura não é universal e que o literário
não é uma essência e sim produto da interação que se estabelece entre leitor e
texto.]
“O que muda o valor do objeto não é
o contexto cultural que faz com que estes sejam impregnados de um valor social
ou de um valor estético” (ICKSTADT, 2002, p. 268).
“Quando alguém, por um julgamento estético, declara como
bela a produção cultural ou artística de outra pessoa ou cultura, a estética
funciona como uma ponte que vai além da diferença. Já quando a estética de
outra pessoa ou cultura é considerada como inferior, a estética torna-se uma
ferramenta de opressão” (ELLIOT, 2002, p. 3).
A estética não é inocente, mas ao
declarar que uma obra artística é complexa ou banal, pertence a um artista
maior ou menor, levanta questões ideológicas que perpassam o seu discurso. Quem
faz esse tipo de asseveração considera a sua estética como universal, fora de
qualquer questão de lugar e tempo e ignora diferenças culturais e históricas.
Embora haja um cânone literário estabelecido, as narrativas que o conformam não
são um conjunto homogêneo, porque as diferentes comunidades que formam a nação
têm suas próprias narrativas diferentes entre si no estilo e no conteúdo.
[Todas as narrativas devem ser
reconhecidas como literatura, no caso das línguas multiculturais, como a
inglesa, muitas vezes acontece que epistemologias estéticas, são articuladas em
uma língua comum, neste caso a inglesa, o que leva a agrupá-las dentro da mesma
tradição e epistemologia estética. Todas essas epistemologias e culturas estão
marcadas pela diferença e estão em contraponto umas com as outras. O fato de
estarem articuladas na mesma língua reforça o estranhamento que se produz
quando nos confrontamos com narrativas literárias provenientes de culturas que
nem sempre associamos com essa língua e que se revelam totalmente diferentes do
esperado.]
A
estética sempre tem tido uma dimensão ética que tem servido a diferentes
ideologias e interesses, de dominação ou de libertação. As narrativas
literárias são uma das formas mais efetivas de persuasão cultural, como a sua
contribuição para a formação de uma identidade nacional e seu uso como
ferramenta de dominação colonial revelam.
[A
autora explica que a estética entendida como uma visão universalizante pode se
tornar uma prática de exclusão e dominação, entendendo assim que a estética
influenciam diretamente na característica cultural, encontrando então
características próprias.]
A
modo de exemplo, a historiografia da disciplina “Literatura Inglesa” mostra que
ela foi primeiramente aplicada na Índia como ferramenta de colonização, porque,
por meio de suas narrativas, repassavam-se para os indianos, tidos como uma
cultura primitiva, os valores da cultura inglesa (VISWANATHAN, 1989). Logo, foi
o canal pelo qual se repassaram para os trabalhadores do norte da Inglaterra e
para as mulheres os valores da classe social dominante inglesa.
Para Matthew Arnold (1869), as narrativas que
compunham o cânone inglês tinham um status quase sagrado no sentido de que
articulavam os valores mais sofisticados da cultura inglesa. Esse tipo de
ideologia se manifesta no fato de prestigiar os valores de um panteão de
escritores, homens, brancos e euro-americanos, nunca sujeito a mudanças, o qual
revela que, muitas vezes, o que se
considera como universal é o cânone Ocidental.
Nas últimas décadas e, a partir de uma
estética da diferença, que dá relevância ao aspecto social, a estética tem-se
tornado uma prática de inclusão que considera o elemento de conflito na
convivência entre grupos de interesses diferentes. Essa visão social da
estética leva a uma leitura que considera a maneira como a metáfora literária
articula as experiências do dia a dia dos leitores mediadas por questões de
classe, raça, gênero, etnia, etc. Ao invés de tentar escapar dos conflitos
sociais pela imposição de valores morais e éticos e a transcendência a algum
plano superior, abstrato e universal, possibilitado pelo caráter sublime da
metáfora literária.
Dewey explica que, para entender a arte na
sua forma final, como é apresentada para o público, é preciso começar com as
cenas e eventos que chamam a atenção do olhar e do ouvido do homem e que lhe
causam prazer ao escutar ou enxergá-las: a visão de uma multidão, um homem
suspenso no ar em um palanque, a graça do jogador de bola que cativa a
audiência, uma dona de casa tomando conta de uma plantinha. É por isso que, na
opinião do filósofo, a arte que tem mais vitalidade é a arte que se considera
como popular: o cinema, os gibis, os gêneros policiais etc., enquanto a arte
que é relegada ao museu perde a sua energia, tende a se tornar anêmica, e fica
isolada e relegada a uns poucos.
[A
imposição de narrativas sobre as deles era uma maneira de evitar o que se
entendia como anarquia e barbárie e esse desejo de unificação fez com que a literatura
se tornasse uma ferramenta de opressão social e cultural ao impor os valores
das elites dominantes a colonizados, classe baixa e mulheres, sendo usada para
reafirmar preconceitos nacionais, raciais, de gênero entre outros.]
Considerado dessa maneira, o conteúdo
estético e afetivo das narrativas literárias torna-se um canal adequado para
uma renovação da sociedade em geral e, no caso das literaturas estrangeiras,
torna-se um discurso mediador das relações entre diferentes culturas.
A poeta norte-americana Adrienne Rich, cita:
“[...] o estético não é uma visão privilegiada e isolada do sofrimento humano,
mas uma notícia de conscientização, de resistência que os sistemas totalizantes
querem subjugar: a arte alcança o que ainda é apaixonado, ainda não é reprimido,
ainda não é subjugado”.
Dessa
maneira, pela leitura de textos literários, entendidos como construções
históricas e sociais que, por sua vez, não só afirmam, mas também interrogam a
história das diferentes culturas, passa-se a perceber o modo em que a própria
cultura se relaciona com outros locais e, por meio desse posicionamento
crítico, torna-se parte de um processo de mudança.
Falando da educação em sentido lato, a aula
de literatura em geral e a estrangeira em particular tornam-se um terreno em
que o aprendizado está intimamente ligado a conceitos de lugar, identidade,
história e poder, uma vez que permitem uma reconsideração não só da leitura de
textos produzidos em culturas tidas como hegemônicas ou periféricas, mas também
dos círculos de poder (acadêmicos, políticos, editoriais etc.) que legitimam a
leitura de determinados textos em detrimento de outros.
[Em
outro nível, essa leitura social da
arte contribui para uma sensibilização com a cultura do outro, tanto dentro
como fora das fronteiras nacionais, pela desconstrução de estereótipos
culturais. Essa função da estética tem a ver com seu aspecto ético. E para
encerra, uma citação de Derrida (1992, p. 58), que nos faz entender e refletir
um pouco mais sobre a literatura: “A Literatura em geral é um lugar
institucional e selvagem; um lugar institucional no que é permissível
questionar, ou ainda colocar em suspenso, a instituição toda”.]
O TROPO DA DIFERENÇA
[Na
aula de literatura inglesa, o tropo da diferença deveria ser o principal, pois
vincula-se no encontro entre texto, autor e leitor. As narrativas pertencem a
uma rede de significações complexa, que se transformam constantemente, seja
dentro ou fora da comunidade em que foi escrita, mostrando a penetração
recíproca entre comunidades discursivas diferentes.]
Segundo Fish (1982):
Esse processo implica
uma familiarização com metáforas e práticas literárias que não necessariamente
vão coincidir com aquelas da nossa cultura, porque respondem a uma concepção de
literatura que tem a ver comoutras comunidades interpretativas
[As
considerações de Fish mostram que o valor ou a distinção entre o literário e
não literário é mutável, nunca está explicito no texto, pois é cultural e está
vinculada a relação obtida entre leitor e texto. Já quando se trata de
características formais do texto, pode-se dizer que são associadas a diferenças
culturais.]
Por
exemplo, Hughes & Trautman (1995, p. 172) apontam que nas comunidades
judeu-cristãs o conceito de tempo é linear e implica nascimento, vida e morte. Na
comunidade hindu, a reencarnação apresenta o conceito de tempo de maneira
circular, uma passagem contínua entre uma vida e outra, o que vai implicar uma
forma diferente de enredo que, mais do que se organizar em princípio, meio e
fim, implica um constante recomeçar. Ao mesmo tempo, a estrutura episódica das
narrativas indianas faz com que a estória seja narrada por meio de uma série de
enredos e subenredos que se complementam uns com outros, revelando a
pluralidade e polifonia da comunidade indiana. Colocar o foco em um ou outro
episódio faz com que a narrativa adquira uma significação diferente (PANIKER,
2003).
[Nota-se
então, que os aspectos sociais são complementares aos estéticos, neste tipo de
leitura o contexto cultural é que define a estética, e a estética tem papel de
ajudar a formatar melhor os temas culturais, sendo ambas intrínsecas. É
necessário que o professor, que ao trabalhar uma literatura multicultural em
língua inglesa e se deparar com diversas traduções literais, se familiarize com
teorias de conhecimento estéticas e sistemas culturais diferentes, afim de não
limitar os textos literários a meras narrativas sociais, ou até mesmo
depreciar, desqualificar sistemas artísticos por não coincidirem com os de
nossa cultura].
REFLEXÕES FINAIS
[Entendemos
que a estética da diferença é central em um mundo dividido pelos conflitos
entre as diferentes comunidades da sociedade globalizada. Ensinar a diferença
implica ensinar as condições não só literárias, mas culturais, sociais e
políticas que informam a comunidade onde a narrativa foi escrita. Nesse
sentido, o texto literário não é um fim em si mesmo, mas uma zona de contato
que ajuda a desconstruir as visões, muitas vezes negativas, de outras
comunidades que os alunos trazem para a sala de aula]
[Segundo Helen Hoy (2001, p.11) o conceito de diferença é
assimétrico e implica a pergunta “Diferença, mas do ponto de vista de quem?” A
escritora discute o caso de escritores canadenses que são questionados sobre o
que significa ser um escritor nativo, sobre seus costumes, mas nunca sobre o
processo de escrita, sua diferença é restrita a questão de raça. Se por um
lado, ignorar a diferença tem um efeito negativo, por outro, fixar-se nela
tornando-a o único tropo, no caso de comunidades consideradas como minorias,
tem um caráter redutivo e restritivo. Muitas vezes há um desejo de enfatizar
sua diferença, essa atitude reflete na sua resistência a que outras pessoas,
fora da comunidade se apropriem de suas narrativas, porque só eles podem narrar
e entender, não admitem posicionamentos e interpretações diferentes.]
[O título do livro de Hoy, Como deveria ler essas [estórias]? Aponta para esses conflitos: a
diferença entendida como irredutível que coloca uns em nível de superioridade
comparados com o Outro. Uma maneira de negociar as diferenças seria, não
comente por via do cânone, mas pela reformulação do conceito de narrativa e da
leitura do s textos literários não como narrativas universais, mas como
processos de significação que vão variar o contexto cultural e as relações
entre as pessoas envolvidas.]
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