Este relatório, tem como objetivo principal, desenvolver uma análise e
apresentar pontos essenciais para o entendimento da obra “Capitães da Areia” de
Jorge Amado.
A trama se desenrola a partir da seguinte premissa:
O termo “Capitães da Areia” faz referência aos meninos de rua da cidade de
Salvador, menores, cuja vida marginal é explicada, de uma forma geral, por
tragédias familiares relacionadas à condição de miséria e descaso público. O
grupo de meninos que forma os Capitães se esconde em um “trapiche” abandonado
em uma das praias da capital baiana.
Os personagens que compõem o núcleo central da narrativa apresentam
algumas particularidades: “João Grande” possui uma força bruta, porém é o mais
sensível e companheiro de todos. O “Professor” é lembrado por ser o único que
sabe ler. O “Sem-Pernas” é lembrado pela arrogância e amargura com que trata a
todos. A opressão sertaneja é representada por “Volta-Seca”, a beleza e a sexualidade
por “Gato”. A malandragem por “Boa-Vida”, e a tendência à religiosidade se
manifesta em “Pirulito”. Todos são liderados por Pedro Bala.
Órfão desde muito cedo, Pedro descobre o passado de seu pai, um líder
operário assassinado durante uma greve. Quem lhe dá a informação é João de Adão,
organizador de greves que abre ao menino as portas da luta trabalhista. Pedro
prefere continuar a organizar os assaltos e roubos cometidos pelo bando,
participando das ações mais perigosas.
II. Sobre o Autor
(Imagem:
www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp)
Jorge
Amado nasceu em Itabuna (BA), em 10 de agosto de 1912, e passou a infância em
Ilhéus. Aos 19 anos surpreendeu a crítica e o público com o lançamento do
romance "O País do Carnaval". Desenvolveu uma literatura
politicamente engajada e, nos anos seguintes, publicou "Cacau"
(1933), "Suor" (1934), “Jubiabá" (1935) e "Capitães da
Areia" (1937).
Fez os
estudos universitários no Rio de Janeiro, formando-se bacharel em ciências
jurídicas e sociais. Em 1945 foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB), tendo participado da Assembleia Constituinte de 1946 e da
primeira Câmara Federal após o Estado Novo. Perdeu o mandato em 1948, depois
que o PCB foi colocado na ilegalidade. Deixou o Brasil e viveu cinco anos na
Europa e na Ásia.
Com
Gabriela, Cravo e Canela (1958) iniciou nova fase literária, marcada por um
estilo picaresco, de personagens malandros e bufões. Morreu em 6 de agosto de
2001, em Salvador. É o romancista brasileiro mais traduzido e conhecido em todo
o mundo.
Suas
principais obras são: "O país do carnaval" (1930), "Suor"
(1934), "Mar Morto" (1936), "Capitães da areia" (1937),
"Gabriela, cravo e canela" (1958), "A morte e a morte de Quincas
Berro d’Água" (1961), "Dona Flor e seus dois maridos" (1966),
"Tieta do agreste" (1977), "Farda, fardão, camisola de
dormir" (1979) e muitas outras.
III. A Obra
III.I. Capitães da Areia e seu
Caráter Social
Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado
Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em
praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na
vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as
edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para
o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas
ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza,
dramaticidade e lirismo.
A trama tem o espaço e o tempo bem definidos. O enredo se
desenrola na capital da Bahia, a cidade de Salvador, em 1930. O romance é narrado em terceira pessoa,
por um narrador onisciente (que sabe tudo o que ocorre). Essa característica
narrativa possibilita que seja cumprida uma tarefa facilmente notada pelo
leitor: mostrar o outro lado dos Capitães da Areia. O narrador, ao penetrar na
mente dos garotos, apresenta não apenas as atitudes que a vida de marginalidade
os obriga a tomar, mas também as aspirações, os pensamentos ingênuos e puros,
comuns a qualquer criança. O narrador não se esforça por ser imparcial;
participa com seus comentários e críticas, muitas vezes sutis, mas sempre
favoráveis aos Capitães da Areia.
No início da obra há uma série de
reportagens fictícias que explicam a existência de um grupo de menores
abandonados e marginalizados que aterrorizam a cidade de Salvador e é conhecido
por Capitães da Areia. Também há cartas de leitores do jornal que apoiam o
grupo ou que o repudiam. Após esta introdução, inicia-se a narrativa que gira
em torno das peripécias desse grupo que sobrevive basicamente de furtos. Porém,
apesar de certa linearidade, a história é contada em função dos destinos de
cada integrante do grupo de forma a montar um quebra-cabeça maior.
A obra não possui um
personagem principal. Para indicar um protagonista, o mais apropriado seria
apontar o conjunto do bando, ou seja, os Capitães da Areia como grupo. Isso
porque as ações não giram em torno de um ou de outro personagem, mas ao redor
de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais importante para o enredo do
que o Sem-Pernas ou o Gato. Pode-se dizer que ele é o líder do bando, mas não
lidera o eixo do romance. Daí a ideia de que o protagonista é o elemento
coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma parte da personalidade, uma
faceta desse organismo maior que forma os Capitães da Areia.
O livro é uma denúncia sobre o descaso social e político que
ocorre com as crianças de rua à mercê da violência e da marginalidade. Tem um
caráter jornalístico, tentando aproximar-se o máximo possível da realidade,
pois sabemos que essa história apesar de ser fictícia, há muitas crianças
abandonadas nas ruas, não apenas em Salvador, mas em todo o país. Também não é
um problema só do Brasil, é um problema mundial.
É
preocupante saber que esta obra foi escrita nos anos 30 e, ainda hoje, os
jornais, telejornais e revistas trazem em suas colunas sobre problemas sociais,
as notícias, com índices, gráficos e dados sobre o crescimento da violência e
da marginalidade nas grandes capitais e também nas cidades de interior. Vemos a
todo momento o aumento dos menores de idade envolvidos com o tráfico de drogas,
prostituição e roubo. A obra pode ter mais de 70 anos, porém continua inevitavelmente
atual.
O
objetivo de Jorge Amado ao escrever “Capitães da Areia” é, com toda a certeza,
denunciar esta situação e expor as suas críticas à sociedade burguesa da época
e à não preocupação em salvar estes jovens e tirá-los das ruas para que tenham
uma educação de qualidade e uma vida digna que lhes é garantido por direito em
nossa Constituição, que nesse aspecto, compete às autoridades municipais e
estaduais tomar providências cabíveis. E também, tomar atitudes de mudança
sobre o reformatório, que logo no começo da obra, com “a carta de uma mãe”, faz
uma denúncia sobre os maus tratos e as péssimas condições à que os jovens
infratores são submetidos nesse lugar.
IV. Contexto Histórico
Era Vargas é o nome que se dá ao período em que Getúlio Vargas governou o
Brasil por 15 anos, de forma contínua (de 1930 a 1945). Esse período foi um
marco na história brasileira, em razão das inúmeras alterações que Getúlio
Vargas fez no país, tanto sociais quanto econômicas.
A Era Vargas, teve início com a Revolução de 1930 onde expulsou do poder
a oligarquia cafeeira, dividindo-se em três momentos:
Governo Provisório: 1930 a 1934
Governo Constitucional: 1934 a 1937
Estado Novo: 1937 a 1945